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GRADA KILOMBA

Grada Kilomba (1968, Lisboa) é uma artista interdisciplinar, com raízes em São Tomé e Príncipe, Angola e Portugal.

Nas suas obras, Kilomba explora as questões da memória, trauma e pós-colonialismo: “Quem fala? Quem pode falar? E falar sobre o quê?” Kilomba é particularmente conhecida pela sua prática artística subversiva, na qual ela dá corpo, voz e imagem aos seus próprios textos, criando uma visualidade poética de vários formatos e materiais, para revisar a história colonial e o seu legado traumático - estendendo-se da performance, à instalação e vídeo.


O seu trabalho tem sido apresentado em eventos tão distintos como La Biennale de Lubumbashi VI (2019), 10. Bienal de Berlim (2018), Documenta 14 (2017), 32. Bienal de São Paulo (2016), assim como em inúmeros museus internacionais.


Vive em Berlim, onde se doutorou em filosofia na Freie Universität, e ensinou em várias universidades internacionais. Kilomba é autora do aclamado livro “Memórias da Plantação” (Orfeu Negro, 2018), uma compilação de episódios de racismo quotidiano.

O BARCO

„O Barco“, estende-se pela plataforma do memorial, ao lado do rio Tejo, como um jardim, formando uma simples composição de bancos, que imita detalhadamente uma „nau com pessoas escravizadas.“


Um barco, no imaginário „português“ é facilmente associado à glória e expansão marítima; uma narrativa inscrita nos vários monumentos públicos junto ao rio da cidade, que romantiza o passado histórico colonial, e que apaga um dos mais longos e horrendos capítulos da humanidade - a Escravatura.


Esta peça, em oposição direta, revela minuciosamente o porão desses barcos. Os bancos de betão criam uma silhueta que expõe não só a história, mas o conteúdo desses barcos, os corpos. A distância entre os 131 bancos de betão cria ‚entradas‘ e infinitos caminhos, quase que um labirinto, convidando o público não só a contemplar „o barco“ de fora, mas também a entrar nele e a caminhar dentro dele - como se se tratasse de um jardim de contemplação e de memória. O formato retangular e uniforme dos bancos revelam-nos, não só como assentos, nos quais o público é convidado a se sentar para olhar, pensar, contemplar, rezar, cultuar e respeitar; mas também os revela como uma alusão a metafóricos túmulos, que dão „habitat“ a uma história de desumanização, e dão um lugar de descanso e reconhecimento a milhares de pessoas escravizadas.


Para distinguir os simples bancos, dos metafóricos túmulos, estes últimos, serão cobertos por poemas inscritos na sua superfície, como: „Não há nada mais doce, do que uma profunda verdade.“ Os poemas interagem diretamente com o público, que os lê e se curva perante eles. Esta coreografia da contemplação, é própria de um memorial, como um espaço de rituais e cerimónias a uma história que tem de ser lembrada e que não pode ser esquecida. Uma história que tem que ser contada e enterrada dignamente, pois só assim se pode produzir memória.

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